SAÚDE/BEBÊ

CIRURGIA FETAL CORRIGE HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA CONGÊNITA (HDC) EM BEBÊS NO ÚTERO DA MÃE

Um em cada 4 mil nascidos sofre com a Hérnia Diafragmática Congênita (HDC), que é um orifício no diafragma pelo qual os órgãos sobem para o tórax. O diagnóstico pode ser feito na ultrassonografia de primeiro trimestre e o tratamento, que começa ainda na gestação, aumenta a sobrevida em 50%.

O grupo de cirurgia fetal da Gestar Centro de Medicina Fetal e da Rede Gestar de Medicina Materno-Fetal, coordenado pelo dr. Fábio Peralta, já realizou corrigiu, em mais de 120 fetos, o grave problema de Hérnia Diafragmática Congênita (HDC), que impede o desenvolvimento dos pulmões do bebê, com o procedimento intrauterino de oclusão traqueal endoscópica. Trata-se de uma experiência ímpar no País e uma das maiores casuísticas mundiais no tratamento intraútero de HDC. “Os resultados observados até o momento são semelhantes aos alcançados no mundo, em especial nos EUA e em alguns países da Europa, com sobrevida com alta do berçário de aproximadamente 50%”, comemora o cirurgião.

O médico explica que,durante a gestação, inúmeras são as condições clínicas que podem afetar o adequado desenvolvimento dos pulmões fetais, dentre as quais destaca-se a Hérnia Diafragmática Congênita (HDC).

“A HDC consiste em um defeito, um orifício no diafragma – músculo que separa as estruturas abdominais das torácicas, pelo qual os órgãos abdominais passam para o interior do tórax”, explica. “A presença dessas vísceras abdominais na cavidade torácica impede o adequado crescimento e maturação dos pulmões”, relaciona.

De causa pouco conhecida, a incidência da HDC é de 1/2500 a 1/5000 nascidos vivos. Oitenta e quatro por cento das lesões são do lado esquerdo do diafragma, 13% são do lado direito e 3% são bilaterais. Em aproximadamente metade dos casos, são encontradas outras anomalias estruturais ou genéticas associadas, sendo a taxa de mortalidade neste grupo de 100%. “Considerando-se somente os casos com HDC isolada, sem associação com outras alterações anatômicas fetais ou doenças genéticas, as taxas gerais de sobrevida neonatal variam de 50 a 90%”, completa Peralta.

Diagnóstico

A ultrassonografia morfológica fetal de 1o trimestre, realizada entre a 11ª e a 13ª semana de gravidez, permite a suspeita ou mesmo a identificação da HDC. Na maioria dos casos, nesta fase, ainda precoce da gravidez, a HDC não é visível com a ultrassonografia, no entanto, boa parte dos fetos, que apresentam o defeito, têm aumento da medida da translucência nucal (TN) – líquido que fica na porção posterior do pescoço do feto, o mesmo usado para cálculo de risco para Síndrome de Down -, o que requer reavaliações ultrassonográficas mais frequentes e um detalhado exame morfológico de 2o trimestre. Assim sendo, mesmo que a HDC não seja confirmada no morfológico de 1o trimestre, com certeza será identificada em exames subsequentes.

O exame morfológico de 2o trimestre , realizado entre a 18ª a 24ª semana de gestação, permite, não somente a confirmação do diagnóstico da HDC, mas também a avaliação de algumas características associadas ao defeito, que possibilitam a definição de prognósticos (evoluções mais prováveis). Isso contribui sobremaneira para a definição da melhor conduta a ser oferecida a cada gestante.

As características ultrassonográficas associadas à HDC, que são levadas em consideração para a definição de prognósticos, são: a posição do fígado e uma medida chamada de relação pulmão/cabeça (RPC). Quando há herniação de parte do fígado para o interior do tórax e a medida da RPC é menor do que 1,0, a HDC é extremamente grave e a possibilidade de sobrevida pós-natal é próxima de zero. Por outro lado, quando não há herniação hepática para o tórax, ou quando essa herniação ocorre, mas a RPC é igual ou maior do que 1,0, a HDC é menos grave (bom prognóstico) e a chance de sobrevida pós-natal chega a 70%.

Tratamento

As possibilidades de conduta para os casos de HDC consistem em tratamentos que se iniciam antes do nascimento e se estendem ao período pós-natal, ou com tratamentos realizados somente após o nascimento.

Para os casos de HDC de mal prognóstico, a indicação é que o tratamento se inicie no pré-natal, com a oclusão traqueal endoscópica fetal e continue após o nascimento. Porém, a experiência mundial sugere que os bebês que apresentam HDC de melhor prognóstico podem ser operados somente após o nascimento.

Depois de um período de estabilização na UTI neonatal, a cirurgia definitiva de fechamento do diafragma é realizada pelo cirurgião pediátrico. A chance de sobrevida com alta do berçário para essas crianças fica em torno de 70%, pois há diferenças de conduta entre os diversos centros que recebem estes pacientes.

Nos casos de HDC grave, a oclusão traqueal endoscópica fetal pode ser realizada entre a 24ª e a 28ª semana de gestação. Entre a 32ª e a 34ª semana de gravidez, o balão traqueal é retirado e a gestante aguarda o início do trabalho de parto em casa. Após o nascimento, o recém-nascido passa por um período de estabilização na UTI, depois é submetido à cirurgia definitiva de fechamento do diafragma pelo cirurgião pediátrico. A chance de sobrevida com alta do berçário para essas crianças fica em torno de 50%, o que seria próximo de zero se somente a conduta pós-natal fosse adotada.

Saiba mais sobre Hérnia Diafragmática Congênita (HDC)

Sobre o especialista:

Fábio Peralta é ginecologista, obstetra e cirurgião Fetal, graduado em medicina e residência médica em ginecologia e obstetrícia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, pós-graduado pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado em medicina fetal no King’s College Hospital – Universidade de Londres. Foi um dos pioneiros das cirurgias fetais no Brasil. Atualmente é médico responsável pela cirurgia fetal no Hospital do Coração de São Paulo (HCor); Hospital São Luiz, Cetrus e na Gestar Centro de Medicina Fetal. Coordena o programa de pós-graduação (lato sensu) em medicina fetal do Cetrus em São Paulo.