SAÚDE/BEBÊ – Mielomeningocele ou Espinha Bífida

Técnica do médico brasileiro Fábio Peralta reduz a incisão uterina da cirurgia para correção da mielomeningocele de 8 cm para 2 a 5 cm. Conheça as consequências do problema que ocorre em 1 de cada mil nascidos vivos:

​Técnica do dr. Fábio Peralta reduziu de 8 cm para 2cm a 5 cm a incisão para cirurgia de correção da mieolomeningocele ou espinha bífida.

Mielomeningocele ou espinha bífida aberta é a anomalia congênita mais comum do sistema nervoso central e, no Brasil, acomete 1 em cada mil nascidos vivos. “Consiste em uma abertura na coluna (arco vertebral) do feto por onde ocorre a exposição das raízes nervosas da medula ao líquido amniótico”, explica Fábio Peralta, médico obstetra especializado em medicina fetal (fetólogo), cirurgião-chefe da Gestar Centro de Medicina Fetal. “Sem a proteção de uma pele normal, este tecido nervoso sofre novo dano secundário à exposição ao líquido amniótico e trauma contra a parede uterina. Como consequência, pode levar à paralisia dos membros inferiores, atraso no desenvolvimento intelectual, alterações intestinais, urinárias e ortopédicas”, complementa.

Diagnóstico

A ultrassonografia morfológica fetal de 1º trimestre, realizada entre a 11ª e a 13ª semanas e 6 dias de gravidez, realizada com o objetivo de detectar a Síndrome de Down, também permite rastrear a espinha bífida. “Fetos com o defeito na coluna apresentam o desaparecimento de uma cavidade dentro do cérebro denominada translucência intra-craniana, região correspondente ao quarto ventrículo. O rastreamento precoce permite o aconselhamento do casal, discussão sobre as formas possíveis de tratamento e programação da correção cirúrgica intrauterina nos casos selecionados”, revela Peralta.

Tratamento

Dr. Fábio Peralta relembra que até alguns anos atrás, a correção da espinha bífida era realizada apenas após o nascimento. “Aproximadamente 80% das crianças operadas no período neonatal necessitavam de cirurgias para colocação de drenos (drenos ventrículo-peritoneais) no cérebro. Grande parte desses bebês, precisavam de cirurgias repetidas, que levavam a uma progressiva redução da capacidade intelectual e altas taxas de óbito de até 15% dessas crianças até o 5º ano de vida.

Em 2011, foi publicado um elaborado trabalho científico nos EUA chamado de MOMs trial (Management of Myelomeningocele study), cujos resultados demonstraram que os bebês com mielomeningolece ou espinha bífida poderiam ser tratados ainda dentro do útero por cirurgia a céu aberto. “Esses bebês evoluíram com significativo aumento na chance de deambular, melhora significativa no desenvolvimento intelectual e menor necessidade de colocação de drenos cerebrais após o nascimento. Desde então, o tratamento intrauterino por cirurgia aberta no útero tem sido o tratamento de escolha para fetos selecionados com espinha bífida”, conta Peralta.

Nem todos os bebês, porém, podem ser operados durante a gestação. Existem algumas indicações específicas, dentre elas, a idade gestacional entre a 19ª e a 26ª semanas, aberturas na coluna localizadas entre a primeira vértebra torácica e primeira vértebra sacral, presença de alterações cerebrais associadas (Chiari II) e ausência de outras malformações fetais ou síndromes graves.

Correção da Espinha Bífida

O grupo de cirurgia fetal da Gestar Centro de Medicina Fetal e da Rede Gestar de Medicina Materno-Fetal, coordenado pelo Dr. Fábio Peralta, realiza a cirurgia para correção da espinha bífida aberta. “A técnica cirúrgica, realizada pelo nosso grupo, é uma técnica semelhante a descrita pelo MOMS trial mas, aprimorada de forma a diminuir os riscos maternos e o parto prematuro”, comenta o cirurgião.

A técnica tradicional consiste em uma cirurgia aberta com uma incisão no útero de 6 a 8 cm de extensão. “A nossa técnica modificada e publicada internacionalmente, denominada correção da mielomeningocele fetal por mini-histerotomia, reduz a extensão da incisão uterina para 2 a 5 cm, o que, consequentemente, diminui os riscos maternos da cirurgia, mantendo os mesmos benefícios para o feto”, garante Peralta.

“Outras técnicas têm sido desenvolvidas para a correção da espinha bífida, entre elas, a correção endoscópica por fetoscopia. Até o momento, essa é uma técnica de caráter experimental, sem benefícios neurológicos comprovados e que ainda requer estudos bem conduzidos”, finaliza o médico.

Sobre o especialista:

Fábio Peralta é ginecologista, obstetra e cirurgião Fetal, graduado em medicina e residência médica em ginecologia e obstetrícia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, pós-graduado pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado em medicina fetal no King’s College Hospital – Universidade de Londres. Foi um dos pioneiros das cirurgias fetais no Brasil. Atualmente é médico responsável pela cirurgia fetal no Hospital do Coração de São Paulo (HCor); Hospital São Luiz, Cetrus e na Gestar Centro de Medicina Fetal. Coordena o programa de pós-graduação (lato sensu) em medicina fetal do Cetrus em São Paulo.