Até alguns anos atrás, a correção da espinha bífida era realizada apenas após o nascimento. Aproximadamente 80% das crianças operadas no período neonatal necessitavam de cirurgias para colocação de drenos (drenos ventrículo-peritoneais) no cérebro. Grande parte desses bebês, precisavam de cirurgias repetidas que levavam a uma progressiva redução da capacidade intelectual e altas taxas de óbito de até 15% dessas crianças até o 5o ano de vida.
Em 2011, foi publicado um elaborado trabalho científico nos EUA (ensaio clinico randomizado, nível I de evidência científica) chamado de MOMs trial (Management of Myelomeningocele study)1, cujos resultados demostraram que os bebês com espinha bífida poderiam ser tratados ainda dentro do útero por cirurgia aberta (técnica demostrada ao lado). Esses bebês evoluíram com significativo aumento na chance de deambular, melhora significativa no desenvolvimento intelectual e menor necessidade de colocação de drenos cerebrais após o nascimento. Desde então, o tratamento intra-uterino por cirurgia aberta no útero tem sido o tratamento de escolha para fetos selecionados com espinha bífida.
Porém, nem todos os bebes podem ser operados durante a gestação. Existem algumas indicações específicas entre elas, a idade gestacional entre 19 e 26 semanas, aberturas na coluna localizadas entre a primeira vértebra torácica e primeira vértebra sacral, presença de alterações cerebrais associadas (Chiari II) e ausência de outras malformações fetais ou síndromes graves.
O grupo de cirurgia fetal do Centro de Medicina Fetal Gestar e da Rede Gestar de Medicina Materno-Fetal, coordenado pelo Dr. Fábio Peralta, realiza a cirurgia para correção espinha bífida aberta. A técnica cirurgica realizada pelo nosso grupo é uma técnica semelhante a descrita pelo MOMS trial mas aprimorada de forma a diminuir os riscos maternos e o parto prematuro. A técnica tradicional consiste em uma cirurgia aberta com uma incisão no útero de 6-8 cm de extensão. A nossa técnica modificada e publicada internacionalmente, denominada correção da mielomeningocele fetal por mini-histerotomia2, reduz a extensão da incisão uterina para 2,5 cm, o que consequentemente diminui os riscos maternos da cirurgia, mantendo os mesmos benefícios para o feto.
Outras técnicas têm sido desenvolvidas para a correção da espinha bífida, entre elas a correção endoscópica por fetoscopia. Até o momento, essa é uma técnica de caráter experimental, sem benefícios neurológicos comprovados e que ainda requer estudos bem conduzidos.